domingo, 10 de julho de 2011

Por Que Caio Brito?

Hoje o dia amanheceu mais lentamente, o sol brilhou mais fraco e o vento soprou mais devagar.
Hoje o dia amanheceu desfalcado.
O dia acordou e a gente se perguntou "por que?".
A gente levantou da cama, pensou, chorou, lembrou de bons momentos e se perguntou "por que?"
Por que um amigo vai embora sem dar adeus?
Por que não deu tempo de se despedir de seus pais e seu irmão? Por que? Por que?
Agora temos apenas fotos, momentos e lembranças.
Memórias de Caio, sempre bem humorado, de bem com a vida. Com amor a sua bicicleta sempre.
Mas por que ele tem que ir?
Agora sabemos que nunca mais vamos ouvir sua voz e nunca mais vamos rir de suas piadas, e nem pegar caronas divertidas em seu fusca azul.
Mas por que ele não pode ficar? Por que? Por que?
Essa pergunta vai ficar sem resposta pra sempre.
E vamos seguir a vida lembrando sempre do Caio em nossos corações.
Vá em paz, amigo, onde quer que esteja.
Sentiremos saudades.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ao sair

     Num dia de sol, um morador recém chegado à vila encontra um antigo morador no portão da rua:

     - Bom dia! Está fazendo um dia lindo! Vamos ver o mundo, sair, cumprimentar a todos. Hoje eu quero viver um grande amor. Quero conquistas oníricas, desafios dantescos, quero abraçar o mundo e mostrar a todos que a verdade impera sobre o medo. Que o amor sobrepuja a indiferença. E você , o que pretende fazer hoje?

     - Bem, o dia não esta tão bonito assim, pra mim parece sempre nem muito bom nem muito ruim... Hoje eu vou cruzar calmamente meu caminho de sempre, sem dar um passo diferente. Vou me esquivando dos contatos, vou andar nas sombras, nos cantos, só pra dificultar que me percebam.

     - Eu não entendo como pessoas como você não conseguem viver. Vocês vivem andando em becos, desencontrados, procurando não achar nada. Não me conformo como não conseguem demonstrar um mínimo de afeto, demonstrar que tem alguém de carne e osso ocupando seu lugar no mundo.

     - Mas essa é a questão, queremos ser cristalinos, imperceptíveis. Nossa vontade é desaparecer, bem quietos, vendo o mundo girar, sempre na mesma velocidade, fazendo nossas pequenas coisas indiferentes, falando dos mesmos assuntos, nos mesmos lugares. Assim é mais facil controlar tudo. Você se estressa menos, se machuca menos, corre menos riscos.

     - Mas em compensação você também se diverte menos, ama menos, tem menos chance de crescer, de sair da mesmice, de variar um pouco. Realmente nunca vou entender essa lógica. Essa praticidade que vocês encontram em viver sem rédeas proprias, como folhas levadas pelo vento. Essa lógica não faz o menor sentido para qualquer um que não seja uma máquina.

     - E quem precisa de diversão e amor. Já temos tudo o que precisamos. Trabalhamos, ganhamos nosso dinheiro, temos nossa familia. Já temos todo o amor e diversão que necessitamos. mais que isso seria exagero.

     - Olha, amigo, desculpe não ter mais tempo. Eu tenho que ir, fazer a minha vida valer a pena. Espero que mude sua opinião. Foi um prazer. O meu nome é Existência. Como você se chama?

     - Me chamo Anulação.

domingo, 8 de maio de 2011

Rotatória telefônica

Nada, tic-tac.
Trim! "Alô?" Tic-tac.
Trim! Trim! "Quem é? Não consigo ouvir.
Alô? Está cortando. Tem outra chamada entrando."
Trim! "Te ouço mal. Tem linha cruzada!"
Trim! Trim! Trim! "Alô?! Alô?!"
Trim!!! Trim!!! Trim!!!
Desligado...
"Ufa, que alívio." Tic-tac.
"Vou discar de novo."
Trim... "Alô, consegue me ouvir?"
"Agora sim, alta e claramente."
"Ótimo. Então ouça, não quero gastar muito. Esse telefone não está funcionando bem. Tem horas que é uma beleza, mas às vezes não se ouve o que se fala do outro lado. Às vezes a gente fala, e do outro lado não ouvem. Linha cruzada ocorre a toda hora. Mas acho que consegui um conserto para ele."
Trim! Trim! Um imenso nada... Medo, arrepio, arrependimento.
"Alô?"
"Acho que o fio estava com mal desde que me mudei. E o técnico veio fazer a manutenção, mas não funcionou. Agora sim eu consegui. Não está bom?"
"Está sim!"
"O bom é que esse telefone é antigo, e funciona bem. Não é como essas porcarias moderníssimas digitais que dão defeito fácil. E o fio, tem só a aparência de novo, pois ele funciona bem como os velhos."
"É, agora sim está ótima a ligação!"
Tic-tac feliz. Ouvem-se os sorrisos em ambos os lados do telefone.
No meio da conversa: "Alô?! Quem é?"
Trim! "Alô?! Ainda me ouve?"
Tu, tu, tu...

Na verdade, o fio sempre estivera perfeito. O aparelho sempre estivera funcionando. O defeito está nos próprios usuários apressados, que tornam a ligar, mesmo com a linha ocupada.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Wellington Menezes de Oliveira

Wellington Menezes de Oliveira foi um dia aluno de uma escola.
Como todo brasileiro, foi um dia uma criança.
Talvez tenha brincado muito em sua infância,
Nessa mesma escola, nesse mesmo Realengo.
Pode ter sido alvo, como muitas crianças brasileiras,
De brincadeiras de mau gosto, de apelidos pejorativos,
Talvez, até momentos de raiva ele tenha vivido.

Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos,
Guardou mágoas e rancor, somou ódio e atirou.
Se era louco, Ninguém sabe.
Era Antissocial? Impossível dizer.
Dizem que não tinha amigos, que era psicopata,
Que passava o dia no seu computador.
Ainda remoendo seus dias ruins? Tramando um ataque? Comprando armas?
Não há respostas. Agora o Silêncio impera com choro.

Wellington Menezes de Oliveira, a quem nunca vi nem nunca ouvi falar,
Onde quer que você esteja, somos quase 200 milhões,
Apenas querendo saber porque decidiu por fazer arder a dor dos pais,
Das crianças, dos professores, dos meninos e meninas desse Brasil,
De pessoas comuns e importantes, de poderosos e indigentes.
Queremos saber porque fez aquilo, gostaríamos de sentar e de te ouvir,
Mas isso não é mais possível.

Agora, Wellington Menezes de Oliveira,
Sangue e tristeza estão entranhados no chão e no coração de todos nós.
Não há salvação, e nem respostas.
Apenas esperamos que, de onde você esteja,
Entenda que há saídas melhores que a anulação.

terça-feira, 29 de março de 2011

Disparate

O brasileiro levanta pra batalha,
E trabalha
Levanta cedo pra luta.
Labuta
Rala o dia inteiro,
Sem arrego
Chega em casa tarde, com fome e torto,
Quase Morto
E como que inexplicavelmente, ainda consegue tirar um sarro da jornada.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sujeira

Bom dia, senhor, diz o porteiro ao morador...
Bom dia, doutor, diz o pedreiro ao engenheiro...
Tem um trocado aí, senhor? Diz o menino pedindo...

As fortalezas com vidro elétrico que andam pelas ruas sempre protegem o terno bonito do moço.
Sempre até o dia em que um desses porteiros, meninos, pedreiros se cansam de dizer tanto doutos e senhor, em bons  modos forçados e fingidos, que eles nem entendem.

Se cansam de ver passar por seus olhos a ostentação que também não sabem o que é, mas que sentem, e decidem pegar esse terno encubado numa 4x4 e manchar com sangue sujo, que é pra não sair mais.

Mas Pobres dos meninos, não sabem que moço arrumado já tem máquina de lavar roupa com alvejante especial que deixa novo o terno sujo do cidadão.

sábado, 12 de março de 2011

Bigmouth Strikes Again - The Smiths

Gravei essa música aqui em casa essa semana, numa versão bem amadora, mas as pessoas tão gostando. Ouça você também: http://www.youtube.com/watch?v=4rhliPe_23A

Letra original:


Sweetness, sweetness I was only joking when I said I'd like to smash every tooth in your head

Oh sweetness, sweetness, I was only joking when I said by rights you should be bludgeoned in your bed

And now I know how Joan of Arc felt
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her roman nose and her Walkman started to melt

Bigmouth, bigmouth
Bigmouth strikes again and I've got no right to take my place with the human race

E minha "tradução":

Amorzinho, amorzinho,
eu tava só brincado quando disse que queria te dar uma porrada no meio dos teus córneos.

Amorzinho, amorzinho, eu tava só brincando quando disse que você tinha que ser espancada na sua cama.

E agora eu sei como Joana D'arc se sentiu.
Enquanto o fogo ia quemando seu narizinho romano e seu ipod ia derretendo.

Falastrão, falastrão..
O falastrão fala merda outra vez,
E eu não tenho direito de assumir meu lugar na humanidade.